terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Um brinde a nossa hipocrisia relutante


Diário, parabéns por ser um diário, assim escapas a degradante condição humana. Revendo resumos de história pude concluir uma coisa: nós, os seres humanos, evoluímos. Coronelismo, ditaduras, guerras, pestes, golpes... São necessárias mais provas de que vivemos tempos bem melhores dos que os já vividos? São necessárias mais provas que coloquem em evidência que nunca fomos mais hipócritas do que estamos sendo hoje? Não arregalas os olhos creio apenas por não tê-los ignorante diário. Melhor, diário hipócrita. Porque se em ti escrevo, não passas de um reflexo meu, logo um reflexo sempre será um reflexo. Gostaria de um dia saber onde foi que nos perdemos? Em que buraco enfiamos os tão brindados ideais de liberdade, igualdade e fraternidade? Creio que em buracos não muito pertinentes. Acho que me equivoquei amigo diário, devo me retratar: eles estão ai, pra todos vermos. Somos totalmente livres pra comprar um Ferrari ao voltarmos de um final de semana em Barcelona ou ainda matarmos um “desafeto”, já que com nossa certidão de nascimento vem um vale assassinato. Igualdade? Nunca se viveu tempos de maior igualdade sobre esse globo, alias Globo seria a palavra chave pra essa igualdade, mas não vem ao caso! Fraternidade, a fraternidade é o que mais me comove amigo diário, é de encher os olhos o sentimento de irmandade, o sentimento leal que nosso pit boys demonstram atacando transeuntes pelas ruas, tão amigos, tão companheiros com seus pedaços de pau, suas garrafas e seus quites de ilumição sustentáveis, porque nada mais sustentável que acender um índio que dorme na rua, não devemos nos esquecer dos animais extintos e os alagamentos necessários pra que se acenda uma luz. Digo mais, vamos atear fogo nos gays, nos filósofos, nos deficientes (alias eles não servem para nada não?!), nas grávidas ( elas vem com bônus, um litro de álcool e um fósforo e são dois coelhos numa cajadada só!). Onde é que eu estava com a cabeça ao questionar nossos tão ilustres ideais? Sinto-me enojado, e ainda acho que até tu arrancarias tuas próprias paginas por lhe estarem gravadas tão “sutis” realidades, ou assim espero digno diário. Um dos tópicos dos muitos resumos se lia: “O fim do coronelismo”. Como? Risos encheram o quarto com tamanho bom humor dos nossos historiadores. Nossos coronéis ainda estão aí, acho que já é hora de reverem os livros didáticos. O interessante é que ainda somos rebanhos, maleáveis, manipuláveis. Os coronéis? Não os vê diário? Não os vê impressos em papéis verdes, vermelhos, azuis, em discos metálicos? Não os vê saindo dos caixas eletrônicos? Entretanto uma coisa mudou: não nos submetemos mais aos chicotes, mas sim a nossa própria corrupção. Sempre evoluindo não?! E ainda achamos que vivemos uma era de ouro, de evolução, desenvolvimento... Creio que a maior causa de extinção dos macacos serão os suicídios, isso quando tomarem consciência do que a “evolução” os reserva. Mas somos felizes, civilizados, com nossos diplomas ou não nas mãos, doando roupas para umas tantas vitimas de outros tantos desmoronamentos, porque alem de evoluídos somos caridosos. Nuca se viu tão grandioso pão e circo, mais circo e menos pão, mas olha que fantástico, os grandes astros e estrelas da noite somos nós: os palhaços. Uma salva de palmas porque merecemos. Eu, você diário e essa raça otimista que vive a hipocrisia e a batiza de evolução!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Uma breve constatação anatômica

Hoje me sinto quase que a pessoa mais frustrada do mundo. Abstraído nas páginas de um livro de biologia percebi algo terrível: não passamos de um emaranhado de tubos. Creio que não me entendas diário, não lhe culpo tendo em vista que és formado apenas por folhas de papel, mas nós humanos somos diferentes. Homens, mulheres, médicos, advogados, “pop stars”, cozinheiras todos não passamos de um imenso bolo de tubos. Veias, artérias, arteríolas, capilares, esôfago, intestinos, traquéia, ureteres... Disso somos formados, e observe que fantástico todos os tubos. Entretanto somos prepotentes demais para aceitarmos e nos portarmos como tais, insistimos em nos sentirmos melhores, mais belos, mais inteligentes, mais competentes. Isso os cega a uma verdade mais inconveniente ainda: todo tubo deve ser oco para que realmente seja um tubo. Diário, ao contrário de vocês, nós humanos choramos, suamos, urinamos. As lágrimas, o suor, a urina estão ali, mas não fazem parte de nós, o sangue mesmo circula por não ter escapatória e quando a encontra, como acontece com os demais, deixa um espaço, deixa apenas o vazio para traz. A partir disso diário, só me posso dizer que não somos formados por tubos, somos formados de vazio, uns mais e outros menos, ma todos de vazio.Pensas que sou insano, ignorante diário? Provo-te que não. O que há entre uma célula e outra? Espaço. Retire-me os olhos e o que sobra? Espaço. Arranque-me as vísceras e o que há La? Espaço. Quatro espaços formam-me o coração. Vê diário, somos espaço, somos vazio. E tu não escapas á esse drama, nem tu nem diário nenhum do mundo, entre uma página e outra há sempre espaços, entre uma palavra e outra também, entre um átomo e outro, entre um elétron e o núcleo. Tudo é espaço. Tudo é vazio. Veja como acabamos por ser iguais diário, iguais a todo o resto do espaço. O que nos fará diferentes ou não será o que escolhemos para nos preencher, para nos tornar menos vazios. O que difere uma artéria de uma mangueira ou uma torneira a tornando essencial é o sangue que a preenche, o que há dentro dela. Logo fica algo retórico, será que estamos sendo capazes de preencher nossos espaços para que nos tornemos especiais? Porque tubos vazios serão apenas tubos. Sempre.