domingo, 25 de dezembro de 2011

E eu acho que limpar a casa é uma ótima forma de ignorar os sentimentos. Trocar as almofadas, e colocar água no jarro de flores, e dar de comer aos peixes e tirar o pó, e me encher de pó e no pó permanecer. É incrivelmente interessante como depois de a casa limpa me encontro ainda extremamente sujo, sujo pelos meus rancores persistentes, pelas minhas derrotas ainda não digeridas, meus não tão amores, porém imensuravelmente não resolvidos. Mesmo com o chão reluzindo a pureza que lhe dei com tamanho esmero, ainda me encontro cheio de rastros dos meus demônios particulares que vez ou outra resolvem festejar sabe-se lá o que, minha fraqueza? Minha força? Minha persistente e até voluntária companhia? Mistério. Mas eles com tamanha euforia festejam. Se eu acho que devo fazer alguma coisa, exorcizá-los. Não creio ser tão necessário, afinal, são eles quem me mantém vivo, são seus gritos, gargalhadas e clamores que dão tom a minha voz, como poderia vir a desprezá-los se os tenho em mim com tamanho carinho, a ponto que ficar confuso discernir o limite de onde eu termino e onde eles começam. O que posso e quero fazer é curtir também a festa, e dançar, e beber, e sorrir, e gritar, e chorar e começar tudo de novo com meus fantasmas, com cada uma das minhas partes, sejam elas feitas de luz ou de escuridão. E no final de tudo quando a festa terminar empurrá-los de volta para o armário e limpar toda a sujeira, ou ao menos tentar para que a consciência não se meta a cobrar encargos em demasia. E depois de toda essa faxina pessoal deitar-se calmamente no travesseiro, porque eu sei que não estarei acompanhado da frieza do remorso, mas sim da luxuria da ansiedade nas novas orgias particulares que estarão por vir. E o pó? Deixai de lado o pó, porque ele é o adereço do vazio, o acessório de quem morre, e com certeza não estou morto, alias, tenho estado vivo em demasia, limpo ou não. E até acho que não me importo.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Acho que podemos seguir assim, com suas “meias” verdades, ou suas quase mentiras. Até acho que uma e outra se separam apenas por uma linha tênue, que talvez se faz clara tão só pelo contraste dado pelos olhos de quem quer realmente ver. Só posso lamentar que escolha viver de metades, de quase, de partes. “Felizmente, ou infelizmente até, nunca fui homem de meias palavras, de meios gestos, de meios amores, de “meias” emoções, de meias já me bastam as que escondo sujas embaixo da cama, e talvez lá seja o devido lugar não tão somente delas.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Fire

Talvez eu realmente goste de brincar com fogo. Tudo bem que muitos podem achar insanidade, irresponsabilidade, inconseqüência. Mas o sentimento de poder que se tem é algo incomparável, o poder de deixar saltar entre os dedos algo tão fantástico, o deslumbrante brilho incandescente da brasa que lhe rola na palma da mão, que lhe toca a palma da mão, que lhe queima a palma da mão. E talvez esteja ai o mais lindo de todo esse devaneio masoquista: a dor que lhe fica. Afinal, é a dor quem acaba restando, é a dor que lhe acaba por fazer companhia, é a dor que lhe realmente ensina que o que pode dar certo às vezes simplesmente passa por despercebido, mas o que dá errado... Ah o que dá errado machuca, e não é simplesmente imperceptível, deixa uma marca, e o que é a vida se não um complexo de marcas que se explicam e se contradizem. Mas no final de tudo isso por que não simplesmente nos permitir o fascínio do fogo, o aconchego do calor, a comprovação de estar vivo da dor ate que não haja mais o que se possa fazer para evitar o inevitável: tornar-se chama. E com brasa, brilhar. E como calor, aquecer. E como fogo, tragar e consumir tudo o que venha a tocar. Definitivamente, isso é o que importa.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O segredo de ser cinzas.

E de cinzas novamente voltar a ser fênix. Mas ser cinzas não é de todo mal. A cinza incomoda, é notada, é confirmação de algo que realmente existiu, existiu e ardeu em chamas e talvez seja isso o que importe, queimar. E o mais fantástico em ser cinza é poder simplesmente voar com a menor brisa, sem rumo, sem planos, sem o que deixar pra traz, voar, simplesmente ir. Desprender-se do sólido, do fixo, por algo que não se sabe nem onde vai dar.