segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Uma breve constatação anatômica

Hoje me sinto quase que a pessoa mais frustrada do mundo. Abstraído nas páginas de um livro de biologia percebi algo terrível: não passamos de um emaranhado de tubos. Creio que não me entendas diário, não lhe culpo tendo em vista que és formado apenas por folhas de papel, mas nós humanos somos diferentes. Homens, mulheres, médicos, advogados, “pop stars”, cozinheiras todos não passamos de um imenso bolo de tubos. Veias, artérias, arteríolas, capilares, esôfago, intestinos, traquéia, ureteres... Disso somos formados, e observe que fantástico todos os tubos. Entretanto somos prepotentes demais para aceitarmos e nos portarmos como tais, insistimos em nos sentirmos melhores, mais belos, mais inteligentes, mais competentes. Isso os cega a uma verdade mais inconveniente ainda: todo tubo deve ser oco para que realmente seja um tubo. Diário, ao contrário de vocês, nós humanos choramos, suamos, urinamos. As lágrimas, o suor, a urina estão ali, mas não fazem parte de nós, o sangue mesmo circula por não ter escapatória e quando a encontra, como acontece com os demais, deixa um espaço, deixa apenas o vazio para traz. A partir disso diário, só me posso dizer que não somos formados por tubos, somos formados de vazio, uns mais e outros menos, ma todos de vazio.Pensas que sou insano, ignorante diário? Provo-te que não. O que há entre uma célula e outra? Espaço. Retire-me os olhos e o que sobra? Espaço. Arranque-me as vísceras e o que há La? Espaço. Quatro espaços formam-me o coração. Vê diário, somos espaço, somos vazio. E tu não escapas á esse drama, nem tu nem diário nenhum do mundo, entre uma página e outra há sempre espaços, entre uma palavra e outra também, entre um átomo e outro, entre um elétron e o núcleo. Tudo é espaço. Tudo é vazio. Veja como acabamos por ser iguais diário, iguais a todo o resto do espaço. O que nos fará diferentes ou não será o que escolhemos para nos preencher, para nos tornar menos vazios. O que difere uma artéria de uma mangueira ou uma torneira a tornando essencial é o sangue que a preenche, o que há dentro dela. Logo fica algo retórico, será que estamos sendo capazes de preencher nossos espaços para que nos tornemos especiais? Porque tubos vazios serão apenas tubos. Sempre.

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