“Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos
de vida...” e mesmo que os anos não cheguem a ser tantos assim e que raras
também sejam as felicidades, mas que sejam simplesmente intensos, nem bons nem
ruins, mas simplesmente como tenham que ser. Que os dias que ainda virão
consigam ser muito mais do que se esperou que fossem os dias que acabaram por
serem os melhores dias das nossas vidas.
E nesse outro e insistente aniversário acho que tenho pouco a pedir,
pede-se pouco talvez quando se tenha muito. Mais amigos? Não creio, apenas que
os raros e verdadeiros se tornem eternos e que os que tenham que partir
simplesmente ruflem asas com a certeza de que consigo levam bem mais que um
pedaço que não pertence a eles. Mais amores? Nem mais, nem menos, apenas os que
conseguirem de fato fazer com que você queira que haja tempo o suficiente
quando o realmente não há. Mais dinheiro? Talvez, mas lembrando que a falta
dele te faz rir na cara da vida e provar que as vezes vale bem mais a
criatividade. Mais sorrisos? Isso sim, mas que sejam intercalados por lágrimas,
porque eles são muito mais lindos quando úmidos, e mais valorosos quando
arrancados do meio da ferida. Menos inimigos? Certamente que não, eles são a
prova prática de tudo o que se aprendeu com os conselhos que ganhou ao longo
dos longos dias. Menos erros? Que sejam vários ainda, porém não os mesmos,
afinal de contas sem eles você nunca aprenderá o que não fazer e errar
novamente é sinal de que nada adiantou. Menos dificuldades? Que elas consigam
ser cada vez mais numerosas e realmente difíceis, porque elas simplesmente
ficam muito bem na parede de troféus, e as derrotas sempre nos ensinam da forma
mais dura que poderíamos ter feito melhor. Mais tempo? E por fim acho que
apenas devo agradecer a todos os minutos que ficaram para trás, melhor, que
vieram comigo até aqui, porque a única coisa que se tem na vida são os minutos
que se teve, porque os que ainda não se viveu não são necessariamente nossos, e
pode ser que nunca sejam.
sexta-feira, 25 de maio de 2012
quarta-feira, 23 de maio de 2012
E aquele eu que eu gostava tanto,
onde será que se escondeu? Em que gaveta do meu armário será que eu o esqueci. Será
que ele simplesmente não era rápido o suficiente pra me acompanhar em minha
corrida para sentir-me vivo? Talvez não tivesse os joelhos fortes o suficiente
pra agüentar os tropeções e as baladas eternas. O fato é que devo confessar que
a companhia dele me faz falta, com todos seus preconceitos e seus pontos de
vista arcaicos, sinto falta dos puxões de orelha que por hora ele resolvia me
dar. Antiquado, retrogrado, careta, sim esse meu eu era tudo isso, mas com
certeza ele saberia lidar com tudo isso que não consigo hoje em dia, melhor,
lidaria com tudo isso e ainda se sairia muito bem. Ele sim ficava bem nas
minhas roupas, ele sim fazia bem para os meus amigos, ele sim sabia o quão de
sal faltava na comida, era responsável o suficiente para discernir ate aonde ir
ou não e até se parecia melhor no espelho. Talvez meu eu melhor que eu não tivesse
feito metade das coisas que fiz, não teria cometido metade dos erros que por
acaso resolvi colecionar, tudo bem que não teríamos aprendido muita coisa, mas
certamente estaríamos bem melhor do que estou hoje, sozinho. Com essa parte de
mim que insiste em ser auto-destrutiva, essa parte que se porta como uma
criança montando castelos de carta: trabalha-se no edifício e com o, pode-se
ate dizer sádico, prazer de um assopro leva tudo ao chão. E depois disso
começar tudo novamente, carta por carta, andar por andar, assopro por assopro,
insistentemente. Como um relógio, girando em torno do próprio eixo, voltando
sempre ao inicio. Aquele eu não permitiria isso, se levantaria e iria tirar o pó
dos móveis, colocaria ordem no quarto, cuidaria dos jardins, combateria as
pragas, algo certamente mais metafórico e útil. Mas ele se foi, como um grande
amigo que se vai, resta apenas lembrar-se dos conselhos que um dia me deu, e
tentar pensar como ele pensaria, e tentar ser ao menos parecido com o que foi,
porque ser o que se foi não é uma questão de conforto, e sim uma questão de
aceitar que se evoluiu para algo pior, afinal, nem toda evolução leva a elevação.
terça-feira, 22 de maio de 2012
Acaba que é difícil até mesmo
mandar os próprios fantasmas embora, afinal, são nossos demônios particulares
que ficam para nos fazer companhia quando todos se vão. Nossos medos, nossas
fraquezas, nossos defeitos, nossos erros acabam por se tornar nossos fiéis e inseparáveis
acompanhantes. Acho até que eles têm coisas incríveis para nos contar a
respeito de nós mesmos. Então se assentem, fiquem a vontade enquanto preparo
uma xícara de café, temos muito o que conversar.
Lembro-me de um até mais que
sábio conselho de uma professora: “ser
adulto é aprender a administrar o prejuízo”. Acredito que seja essa a
síntese mais que bem feita e não menos completa do sentido de ser adulto. Entretanto
com esses, mesmo que poucos, dias de “adulto”, acho que junto a administrar o
prejuízo soma-se uma gama de outras nem tão pequenas e simples coisas. Sim, vai
um pouco além. Saber balancear o peso que se carrega, afinal nem todo fardo,
mesmo que necessário, é útil. Escolher o que fica e o que vai, ou ainda quem
fica e quem vai, é uma questão simples como organizar uma gaveta, que a tempos
não se abre, abre-se e se depara com um monte de coisas guardas, não raro um
tanto desorganizadas. É simples. Isso se guarda. Isso se joga fora. Isso se
guarda. Isso se joga fora. Isso se joga fora. Isso se joga fora. Isso se joga
fora. Isso se guarda. Isso se guarda... e orgulhosos de nós mesmos e de nossa
incrível capacidade de discernimento olhamos para uma pilha de coisas inúteis.
Fácil agora, basta jogar tudo no lixo. Errado, está ai a parte complicada. Como
jogar fora amigos antigos? Eles nos fazem lembrar que em alguma parte fomos
bons o suficiente para um dia os ter feito. Os dias ruins? Como descartá-los se
eles são a prova viva de que vivemos dias bem melhores. As derrotas? Elas
servem como manual de como encarar os novos desafios, sussurrando aos nossos
ouvidos que podemos estar cometendo os mesmos velhos erros. Os amores mal
resolvidos? Eles são como post its que nos fazem lembrar que um dia fomos
capazes de sentir algo que ia além de nossas obstinações particulares. Nossos
defeitos? Esses sim são os mais difíceis de nos livrar, eles são capazes de
falar sobre nós mesmos muito mais que imaginamos, afinal somos os nossos
defeitos e o que fazemos para corrigi-los, quando fazemos algo é claro. E ao
final desse apanhado de reconsiderações somos obrigados a digerir uma
realidade, ainda que indesejada, somos incapazes de abandonar coisas pelo
caminho, por mais que elas atrasem nossos passos, por mais que emperrem nossas
ambições. Infelizmente, ou até felizmente, funciona meio assim, sabemos bem o
que nos atrapalha, mas somos incapazes de ser displicentes o suficiente para
que não nos pese. Creio que reciclar tudo isso seja a melhor forma de tê-los
por perto, converter todo o possível a nosso favor, como uma pá de esterco em
um canteiro de margaridas, fétido, mas necessário. Quanto a parte do
“administrar o prejuízo” acredito que seja difícil demais, ser adulto é difícil
demais, fecha-se então as gavetas ainda com o que se tinha antes, pesadas e
cheias demais, mas o melhor é fechá-las e espera-se que fique tudo bem. Mas
não, não ficará. Um dia você vai dormir criança e acordará adulto e suas
gavetas estão entupidas demais para que se guarde outras tantas coisas
necessárias, e isso nos faz adultos cheios demais, e vazios. Cheios demais para
aceitarmos o prejuízo.
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