Acaba que os
velórios acabam por ser o passo essencial para a superação do luto. O marco
inicial do luto e da própria superação deste. Todos precisamos dos nossos
cadáveres para que sejam enterrados, as lágrimas, o sofrimento, o apoio dos que
nos cercam acabam por criar o plano de fundo substancial para a integralidade
do luto. Precisamos ver nossos mortos realmente mortos, frios, encobertos pelos
planos egoístas que acabamos por criar sob o solo incerto das nossas expectativas,
simplesmente ignorando até a morte do outro.
Não me refiro
ao significado banal que alguém resolveu dar a morte e registrar em algum dicionário,
me volto a todo tipo de morte, a todo significado que acabamos por associar a
morte. Precisamos do som abafado da terra batendo a tampa do caixão, precisamos
da confirmação, de que nenhum som de vida ecoa por dentro das paredes de
madeira, apenas o som da pá do coveiro ficando a terra. É necessária a certeza
de que lá estão, afinal torna-se
doloroso demais levar flores a túmulos com caixões vazios, e a certeza da
sentença final acaba que, ainda que tardiamente, nos force a deixar de idolatrar a dor encoberta por
afrescos. Afinal, se ali não estão resta apenas a esperança de que quando a
campainha soar não será apenas o entregador de cartas, ainda que tenhamos a
certeza de que sempre o será.
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