terça-feira, 23 de outubro de 2012


Acaba que os velórios acabam por ser o passo essencial para a superação do luto. O marco inicial do luto e da própria superação deste. Todos precisamos dos nossos cadáveres para que sejam enterrados, as lágrimas, o sofrimento, o apoio dos que nos cercam acabam por criar o plano de fundo substancial para a integralidade do luto. Precisamos ver nossos mortos realmente mortos, frios, encobertos pelos planos egoístas que acabamos por criar sob o solo incerto das nossas expectativas, simplesmente ignorando até a morte do outro.
Não me refiro ao significado banal que alguém resolveu dar a morte e registrar em algum dicionário, me volto a todo tipo de morte, a todo significado que acabamos por associar a morte. Precisamos do som abafado da terra batendo a tampa do caixão, precisamos da confirmação, de que nenhum som de vida ecoa por dentro das paredes de madeira, apenas o som da pá do coveiro ficando a terra. É necessária a certeza de que lá estão,  afinal torna-se doloroso demais levar flores a túmulos com caixões vazios, e a certeza da sentença final acaba que, ainda que tardiamente, nos force a  deixar de idolatrar a dor encoberta por afrescos. Afinal, se ali não estão resta apenas a esperança de que quando a campainha soar não será apenas o entregador de cartas, ainda que tenhamos a certeza de que sempre o será. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário