Acontece meio que assim: conhecemos
alguém, a partir daí começamos a nos modelar de forma que passamos a nos
parecer o mais fiel possível com aquilo que achamos que ela gostaria que nos
parecemos. Criamos uma projeção que pensamos se encaixar o mais adequadamente possível
às ambições alheias, e acho que em meio a tantas e diferentes projeções,
chegamos a um ponto em que a bagunça é tanta que já não temos o discernimento
de quem realmente somos, ou melhor, de quem um dia fomos, antes de tantos papéis
e tantos cenários que criamos. É ai onde tudo começa se fragmentar, porque
querendo ou não, um dia queremos algo além de um espetáculo, queremos
simplesmente que as cortinas não se fechem, e que o ator em si se torne o
protagonista, queremos o papel principal, entretanto os personagens ainda falam
mais alto, entornamos lágrimas que não são nossas, entoamos cantos que não nos
fazem o menor sentido, sorrimos sorrisos amarelos e gelados, tudo perfeitamente
ensaiado, ensaiado para acabar ao final do último aplauso. O último aplauso, as
cortinas se fecham, as luzes se apagam, máscaras são tiradas, ninguém vê nada, ninguém
sente nada, enquanto se tira a maquiagem uma lagrima escapa, mas é apenas o pó
nos olhos, afinal não há tempo, outro espetáculo logo tem de começar.
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